Como usar a tecnologia ao nosso favor?

Camila Leporace, especialista em educação e tecnologias digitais, nos concedeu uma entrevista sobre esse tema tão relevante e desafiador no processo de educação e da aprendizagem.

Uma ferramenta muito citada e utilizada e que pode ser vista como vilã ou mocinha em sala de aula é o Chat GPT. Nessa reflexão, Camila pontua os pós e contra desse instrumento e que pode ser utilizada de forma que agregue valor ao conteúdo das aulas.

 

Mas o que é o Chat GPT?

Chat GPT significa – Generative Pre-Trained Transformer – ou seja, trata-se de um chat transformador pré-treinado para gerar conversas, que utiliza ferramentas de Inteligência Artificial (IA) como aprendizagem profunda (deep learning) e aprendizado de máquina (machine learning).

Ele surge com o formato de diálogo de conversa ou um buscador, diferente do google, coerente enquanto texto e não necessariamente, correto e verdadeiro. 

Ele esconde vários riscos, dentre eles, o esvaziamento do processo de escrita, os erros e acertos no rascunho, que para o raciocínio é fundamental, afinal você aprende enquanto escreve e fala. 

O aprendizado da escrita engloba desde a ideia inicial até a contextualização, passando pela satisfação do que está sendo redigido, até a frustração por não encontrar a palavra ou mesmo o sinônimo, por isso, o texto pronto oferecido pelo Chat GPT, se torna um risco para o aluno.

Além disso, a busca pode entregar uma fake news, um texto com a informação errada ou que não seja uma informação e a ausência das fontes, inibe a veracidade da pesquisa

Essa facilidade pode incompatibilizar com o trabalho da sala de aula, onde os professores estimulam os alunos à leitura, a pesquisa e ao conhecimento de grandes autores, passando por literaturas importantes do cenário brasileiro.

 

A Tecnologia é boa ou ruim?

Não podemos aceitar essa dicotomia, de a tecnologia se ser boa ou ruim. Vamos olhar os processos. A tecnologia e a cultura digital fazem a gente repensar várias dimensões da sociedade.

Os processos da educação são sempre permeados pela tecnologia, seja ela digital ou não, como um caderno ou o giz.

Modelos de IA, como o Chat GPT, colabora em vários momentos do nosso dia a dia. Se estamos com uma dúvida de como iniciar um texto ou de finalizá-lo, ele é uma ferramenta que pode nos ajudar, mas isso é um pensamento maduro e que um adulto saberá conduzir sem que isso se torne um agravante na construção do texto.

Já para uma criança, que ainda está em formação e desenvolvendo seu processo de escrita, ao se deparar com uma folha em branco, não terá a mesma maturidade de fazer as perguntas certas para a IA e isso pode prejudicar a produção textual dessa criança, já que a dúvida é um estimulante para a pesquisa.

A formação de um senso crítico e de um base própria é fundamental, principalmente para os jovens que são encaminhados ao ENEM e que tem na redação um peso classificatório alto. A aprendizagem da produção textual é importante para esse momento, em que o jovem se depara com vários textos de apoio e a partir deles, precisa construir a sua própria interpretação do tema abordado e o Chat GPT não estará lá para ajudar nessa construção.

 

A Tecnologia como uma extensão de nós.

Camila, cita o filósofo Andy Clark, que diz que “as tecnologias são extensões de nós”. Isso significa que são extensões e não substitutas, afinal, somos nós que alimentamos a tecnologia.

Há espaço para todo o tipo de conteúdo, vídeos de um minuto ou longos vão despertar a curiosidade daqueles que o buscam, de acordo com o tema abordado.

A importância de não pular os processos.

A IA trás uma pesquisa pronta e o que parece ter sido feita por um humano, mas na verdade são milhões de fragmentos buscados pelo algorítimo.

Já a experiência, a IA não consegue entregar, ela vai falar de uma forma prescritiva sem emoção e sem o entusiasmo que buscamos num texto ou num bom livro, afinal, o inusitado está com a gente

O processo que a gente vive é o que nos torna quem somos. Quando pulamos os processos de escrita e elaboração do texto, estamos deixando de viver momentos prazerosos como a pesquisa e se gostamos do que se está escrevendo e também, da frustração e do cansaço que fazem parte da aprendizagem e isso não imediato e simples.

O cuidado que devemos ter para não nos tornarmos pessoas superficiais, é saber utilizar essa ferramenta, que pode ser um braço no dia a dia, lembrando de dialogar com a IA de forma correta, com as perguntas certas para que ela te entregue um texto consistente.

Na sala de aula, utilize essa ferramenta como um mecanismo de aprimoramento, para que o aluno possa comparar o texto da busca com o dele e assim, desenvolver uma nova redação identificando o generalismo e a frieza da IA.  Essa é uma maneira de estimular que aluno produza com mais criatividade, colocando sua experiência e sensações.

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