Por: Letícia Fonseca
Professora de História do Colégio Euclides
@leticiacffonseca
O carnaval foi trazido para o Brasil como uma festa originalmente europeia que acabou se transformando com o tempo. Inicialmente essa festividade estaria fortemente associada ao período de Quaresma e, por este motivo, consta no calendário cristão ocidental. Durante o período colonial a festa começou a ser popularizada com saídas nas ruas, pinturas corporais, farinhas e líquidos para jogar uns nos outros, o que chamava-se de “entrudo”.
Os entrudos passaram a ser criminalizados no século XIX já que teriam sido considerados baderneiros violentos. Em seguida o carnaval passou por um período de elitização com bailes em espaços privados. Não satisfeitos com esse processo, os grupos populares seguiram resistindo e adaptando suas brincadeiras para que pudessem voltar à legalidade pelas ruas, inicialmente com os cordões. Em momentos posteriores, já no século XX, alguns blocos tradicionais começam a ganhar destaque na cidade do Rio de janeiro como é o caso do Cacique de Ramos e Bafo da Onça. O carnaval de rua passa a ser considerado um grande espaço de resistência cultural.
Ainda no século XIX as marchinhas de carnaval começam a aparecer no cenário carnavalesco pela voz de algumas figuras polêmicas para a época, como é o caso de Chiquinha Gonzaga e sua música “O Abre-alas”. Já no século XX, o carnaval já começa a ganhar uma nova cara com as misturas culturais de ritmos de matrizes africanas, nesse cenário temos o samba ganhando relevância. Para além do samba que ganha um grande espaço no Rio de Janeiro, podemos mencionar também os afoxés baianos, o frevo e o maracatu.
A partir da década de 1920, o carnaval torna-se ainda mais popularizado e organizado com o surgimento das primeiras escolas de samba do Rio de Janeiro. A maior parte dessas escolas de samba partem de esforços e resistência de comunidades, tornando-se alvo dos grandes empresários e financiamentos ilícitos a partir da década de 60. Nesse mesmo período a prefeitura passa a reconhecer essa festa tradicional como uma forma de atrair turistas, rentabilidade e gerar de empregos para a cidade, começando a fazer alguns incentivos.
Em 1984, no mandato do Brizola o sambódromo é inaugurado com um projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, sendo o espaço que abrigará o tradicional desfile das escolas de samba.
As Escolas de Samba do Rio de Janeiro são consideradas importantes não apenas por sua história de resistências populares e tradições culturais, mas também por criar anualmente sambas enredo que tratam sobre assuntos importantes para a identidade nacional brasileira através da arte, emocionando e deslumbrando os seus telespectadores.
Imagens de momentos marcantes do carnaval:
Império Serrano, 1969
Em 1969, alguns meses após o AI5 a escola de samba Império Serrano marcou a história com o enredo “Heróis da Liberdade” demonstrando o seu posicionamento crítico contra a censura da ditadura militar no Brasil.
Beija-Flor, 1989
No ano de 1989, a escola de samba Beija-Flor e o carnavalesco Joãosinho Trinta decidiram que o enredo seria “Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia” em um tom de crítica social a crise econômica e problemas sociais no Brasil. Inicialmente o desfile contaria com uma alegoria do Cristo Redentor cercado de pessoas em miséria social, o que teria motivado uma movimentação política para censurar o desfile. Por fim, o carnavalesco decidiu que o Cristo sairia coberto com um saco preto e uma placa “mesmo proibido, olhai por nós”.
Vila Isabel, 1988
Em 1988 a Vila Isabel se torna campeã pela primeira vez com o enredo “Kizomba, festa de raça” criado pelo compositor Martinho da Vila. O desfile comemorava o centenário da Lei Áurea e relembrou personalidades negras na luta contra o racismo.
Mangueira, 2019
Em 2019 a Estação Primeira de Mangueira foi a campeã com o enredo “História para ninar gente grande”. A ideia era questionar a História brasileira, contada muitas vezes em uma perspectiva europeia, através da exaltação de figuras nacionais anteriormente apagadas dos livros de História, como é o caso dos indígenas e negros africanos.
Portela, 2020
Em 2020 a Portela foi responsável por levar o enredo Guajupiá, terra sem males. A ideia é resgatar a história indígena no território do Rio de Janeiro através de mitos e referências históricas que nos fazem tomar conhecimento sobre os primeiros habitantes do nosso território.
Carnaval é cultura. Cultura Tá no DNA!